Porque nunca é tarde para reflectir...
Educar dá trabalho. Exige amor, diversão, saber comunicar e saber agir. Exige também coerência entre o que dizemos e o que fazemos para que possamos servir de modelo
para os nossos filhos. Exige ainda consistência (e alguma flexibilidade) ao longo dos dias. E muita paciência, às vezes de santo. Mas para além de tudo isto, e para quem habitualmente quer as coisas resolvidas para ontem, exige tempo. Em quantidade e em qualidade. É por isso uma tarefa que nos consome, mas ao mesmo tempo uma das mais estimulantes e enriquecedoras que podemos ter na vida.
No entanto, viver unicamente para os filhos não é nem razoável nem conveniente. Pai e mãe devem ter vida própria e não se transformarem em escravos das crianças.
Antes de serem pais, são seres humanos, homem e mulher, com os seus desejos, necessidades e ambições. Os filhos devem ser algo de muito bom nas nossas vidas, mas não o centro delas. Pais e mães que vivem em função dos seus filhos acabam por perder discernimento e não ser capazes de relativizar qualquer acontecimento que envolva as crianças. Para eles, tudo o que diz respeito aos filhos é de extrema importância, procurando não deixar nada ao acaso. Esta atitude pode causar grande ansiedade nos pais e não menos nos filhos.
Algumas crianças, mais passivas, quando se apercebem do seu papel central na vida dos pais, ficam sob grande tensão e procuram, por todos os meios, nunca os desiludir, vivendo constantemente
na ansiedade de serem os melhores filhos aos olhos dos seus pais e não permitindo a si mesmos qualquer erro, nessa busca da perfeição, que não existe.
Outras crianças, mais activas, poderão usar essa atitude dos pais a seu favor, vivendo num clima de constante desafio aos limites que lhe são impostos, para perceberem até onde podem ir os pais na dependência em relação a si.
Por tudo isto, pai e mãe devem manter a sua vontade de desenvolvimento pessoal, os seus hobbies e a sua vida social, incluindo as saídas com amigos para jantar fora ou uma ida nocturna ao cinema. E é bom que continuem a olhar um para o outro, como homem e mulher que se amam e que pretendem partilhar a vida em conjunto. Não apenas os filhos, mas a vida. Desta forma devem procurar tempo para si mesmos, enquanto casal, todos os dias, ao serão, ou passar um fim-de-semana a sós, de quando em vez.
Muitos casais anulam-se com a chegada do primeiro ou do segundo filho.
As crianças passam a ser o centro das atenções, tudo é feito em função delas e a sua vida pessoal, social e como casal simplesmente deixa de existir. As crianças dormem no quarto dos pais até terem vários anos de vida, as refeições são um tormento a não ser que incluam os alimentos de que gostam, os fins-de-semana e as férias são programados tendo em conta apenas os interesses das crianças...
Dificilmente estes pais se sentirão realizados como pessoas e esse sentimento, mais cedo ou mais tarde, vai ser percebido pelos filhos.
Pelo contrário, pais que cuidam de si e da sua relação, para além de serem mais felizes e emocionalmente mais estáveis, educam melhor os seus filhos e servem de modelo de felicidade para as crianças. Dessa forma ensinam-lhes que a vida tem muitos componentes (e eles, filhos, são sem dúvida um dos mais importantes) e que a todos devemos dar valor para sermos verdadeiramente felizes e nos sentirmos realizados.
Os seus filhos também precisam de espaço e tempo só para eles e vão até agradecer-lhe que, por momentos, não esteja sempre a preocupar-se com eles. Pais realizados e com auto-estima transmitem isso mesmo aos seus filhos.
por Paulo Oom, Pediatra.
25 de maio de 2010
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